"amedeo: certo dia, quando pintava o retrato de soutine e a mão deixara de me seguir, soutine disse-me: - bebes para te matares. e eu perguntei-lhe: - e tu, soutine, o que te levou à tentativa de te enforcares? saímos, depois, em silêncio para a rua. vimos o sena latejar sob as pontes e engolir as estrelas da imensa noite de paris.
jeanne: soutine tinha razão. os anos passaram, não muitos, e amedeo tentara arranjar coragem para deixar de beber. foi inútil, e às vezes era violento - apesar de saber que eu nunca o abandonaria.
amedeo: jeanne pressentiu que eu não precisaria de muito tempo para realizar a minha obra. sempre vivi como um meteoro.
soutine: a 25 de janeiro de 1920, jeanne soube da morte de amedeo. refugiou-se num quarto em casa dos pais, num quinto andar. abriu a janela e saltou para junto dele."
Nas manhãs da minha infância ouvia chocalhos e balidos e corria para a janela para ver o rebanho passar. Hoje passo dos 30 e vivo em Lisboa. Ando de metro, sim, mas não é exactamente a mesma coisa.