Também eu fiquei chocada com o famoso vídeo da revista Sábado, mas a parte que mais me chocou foi o prolongamento da humilhação daqueles estudantes pelos restantes universitários (quer estudantes, quer licenciados) na praça pública, que é como quem diz, nas redes sociais.
A melhor prova de que aquela não é uma amostra válida da população universitária é que entre os meus 800 contactos no facebook e amigos desses amigos cujos comentários li, foram poucos, muito poucos os que admitiram poder cometer uma calinada perante a pressão do microfone de um jornalista. Penso que a maior parte do pessoal, se estivesse na mesma situação teria dito: “para mim podem ser só perguntas de nível 3, por favor”.
No meio daquela vertigem de chamar estúpido ao próximo eu só pensava: “ah, era por causa de gente como vocês que as minhas pernas tremiam quando era chamada ao quadro...”
Agora sei bem quem sou. Com o conhecimento das minhas limitações fui deixando de temer o julgamento dos outros, mas sei também muito bem o que é ser humilhada por valentões que aumentam de tamanho à vista dos calcanhares de Aquiles dos colegas.
“Ah, como a juventude é ignorante”, pasmam-se, como se houvesse ignorância maior do que a do sábio que ignora a existência de ignorância.
“Ah, como a juventude é ignorante”, pasmam-se, como se houvesse ignorância maior do que a do sábio que ignora a existência de ignorância.
Então com o “só sei que nada sei” não havia nada para aprender?
Lamento desiludir-vos, mas essa coisa de cultura geral está muitíssimo sobrevalorizada. A cultura geral que toda a gente devia ter é a de saber o que é um refogado. E saber fazer um refogado. E saber lavar a roupa sem que as t-shirts brancas fiquem todas cor-de-rosa. Isto é conhecimento verdadeiramente útil e básico que muito intelectual não tem.
Talvez devêssemos valorizar mais os conhecimentos práticos, emocionais, sensoriais. Servir-me-á mais saber desfrutar do tecto da Capela Sistina do que saber quem a pintou.
Empinar o nome de uns quantos escritores e suas obras mais importantes é coisa para se fazer em poucos minutos mas garante um brilharete ao jantar. Já pegar num skate e fazer um Ollie implica muitas horas de dedicação, confiança, coragem, capacidade de auto motivação, perseverança. E a sociedade valoriza isso? Parece-me que não...
Talvez devêssemos valorizar mais os conhecimentos práticos, emocionais, sensoriais. Servir-me-á mais saber desfrutar do tecto da Capela Sistina do que saber quem a pintou.
Empinar o nome de uns quantos escritores e suas obras mais importantes é coisa para se fazer em poucos minutos mas garante um brilharete ao jantar. Já pegar num skate e fazer um Ollie implica muitas horas de dedicação, confiança, coragem, capacidade de auto motivação, perseverança. E a sociedade valoriza isso? Parece-me que não...
Paro muitas vezes para ver os miúdos a andar de skate e acho-os admiráveis, verdadeiramente admiráveis Não faço ideia se saberão o que é a Critica da Faculdade de Juízo. Eu sei, porque perdi horas a ler um livro indizivelmente chato para melhorar a nota de Estética II em vez de passar pela experiência de me equilibrar sobre uma prancha com rodas, num parque cheio de sol. Foi a minha escolha, mas não me trouxe grande felicidade.
Não me dei ao trabalho de escrever isto tudo para desculpar a falta de cultura. Não, só quero chamar a atenção para a existência de muitas formas de saber. É fácil julgar com base no trabalho de um jornalista que se limitou a seleccionar os piores momentos de uns quantos para pôr toda a gente de queixo até ao chão.
Aquelas pessoas não são só aquilo.
Não sejam bullies... De que serve saber quem foi Alexandre Magno e não ter Magnanimidade?
clap, clap, clap!!!!
ResponderEliminarUm dia tive 13 anos e um skate, mas os únicos Ollies que aprendi a fazer foram os emocionais. Úteis, como os refogados e a separação de peças de roupa suja. Sublinho mesmo muito o que escreveste. e nasce-me uma vontade já esquecida, de sair para a rua de skate debaixo do braço...
ResponderEliminarEu sigo o seu blogue e, devo dizê-lo, faço-o com gosto e muita atenção. Mas neste caso sou forçado a discordar consigo. Bem sei que tenta puxar o assunto para a ideia de que uma certa superficialidade tem mais beleza e valor do que a maçadora teoria das coisas filosóficas. Mas isso é o que temos feito até hoje: desculpabilizar. Vivemos num mundo de aparências. Se o saber vale assim tão pouco, acordar de manhã, sair de casa, estudar, trabalhar, valerá a pena? Bem sei que gostaria de invocar aquele poema do Pessoa sobre a maçada de estudar. Mas se estes alunos universitários nada mais souberem do que aquilo que estudam (tantas vezes decorado ou copiado) serão capazes de assumir com segurança o futuro? Não estaremos já a sofrer as consequências da mediocridade? Não interessa que todos saibam quem foi Miguel Ângelo, nem discutir filosofia da estética por debaixo do tecto da capela Sistina. Mas não custava nada saber um pouco mais. E se aqueles estudantes não são a maioria temo que sejam uma amostra demasiado grande e séria...
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