A morte, apesar de ser o que temos de mais certo, não cabe no mundo dos vivos. O mundo dos vivos é um corrupio. Temos todos de chegar a algum lado, de conseguir alguma coisa, de seguir propósitos mais ou menos fúteis que nos preencham a vida. Até que um dia, para o qual nunca estamos preparados, somos obrigados a parar e a encarar a nossa mortalidade, a aceitá-la, e a aceitar também a “mentira” que nessa altura nos possa parecer a nossa vida.
É neste confronto entre a vida dos que vivem e a vida dos que morrem que Lev Tolstoi situa A morte de Ivan Ilitch.Por um lado temos Ivan Ilitch, um juiz respeitado que no auge da vida é tomado por uma desconhecida e debilitante doença e que luta solitáriamente contra a dor atroz e pela aceitação do seu destino fatal. Em torno dele, um mundo que continua a girar no mesmo sentido, um mundo onde o sofrimento de Ivan não passa de uma grande maçada e de um empecilho à felicidade dos que com ele convivem e onde a sua morte é uma possibilidade de acender profissionalmente ou de obter retornos financeiros. À excepção do criado Guerassime, ninguém ali parece lembrar-se de que um dia também vai morrer:
“Além das reflexões sobre as nomeações e as modificações no serviço que podiam resultar daquela morte, o próprio facto da morte dum amigo provocou, como sempre, em todos quantos souberam da ocorrência, um sentimento de alegria: não fui eu, foi ele quem morreu.«Ora vejam! Ele morreu, e eu estou vivo!» Assim cada um pensava ou sentia. Quanto às boas relações de Ivan Ilitch, àqueles que eram contados como seus amigos, pensavam além disso, involuntariamente, que ainda tinham de cumprir os aborrecidos deveres de civilidade, que era forçoso assistirem ao funeral e fazerem uma visita de pêsames à viúva.” (p.9)
Porque é que Tolstoi é um monumento da literatura? Porque o seu olhar é aguçadíssimo e a destreza, a incisão e elegância da sua narrativa nunca desiludem o leitor...
Este livrinho é uma obra prima com menos de 100 páginas e é um excelente aperitivo para quem ainda está à espera de ter tempo para ler “Guerra e Paz” ;)
É neste confronto entre a vida dos que vivem e a vida dos que morrem que Lev Tolstoi situa A morte de Ivan Ilitch.Por um lado temos Ivan Ilitch, um juiz respeitado que no auge da vida é tomado por uma desconhecida e debilitante doença e que luta solitáriamente contra a dor atroz e pela aceitação do seu destino fatal. Em torno dele, um mundo que continua a girar no mesmo sentido, um mundo onde o sofrimento de Ivan não passa de uma grande maçada e de um empecilho à felicidade dos que com ele convivem e onde a sua morte é uma possibilidade de acender profissionalmente ou de obter retornos financeiros. À excepção do criado Guerassime, ninguém ali parece lembrar-se de que um dia também vai morrer:
“Além das reflexões sobre as nomeações e as modificações no serviço que podiam resultar daquela morte, o próprio facto da morte dum amigo provocou, como sempre, em todos quantos souberam da ocorrência, um sentimento de alegria: não fui eu, foi ele quem morreu.«Ora vejam! Ele morreu, e eu estou vivo!» Assim cada um pensava ou sentia. Quanto às boas relações de Ivan Ilitch, àqueles que eram contados como seus amigos, pensavam além disso, involuntariamente, que ainda tinham de cumprir os aborrecidos deveres de civilidade, que era forçoso assistirem ao funeral e fazerem uma visita de pêsames à viúva.” (p.9)
Porque é que Tolstoi é um monumento da literatura? Porque o seu olhar é aguçadíssimo e a destreza, a incisão e elegância da sua narrativa nunca desiludem o leitor...
Este livrinho é uma obra prima com menos de 100 páginas e é um excelente aperitivo para quem ainda está à espera de ter tempo para ler “Guerra e Paz” ;)
Já não morro sem o ler ;)
ResponderEliminarFaz parte dos que ficam à minha mesa de cabeceira...tão pequenino e tão denso.
;)
ResponderEliminarEu ainda vou a tempo de morrer sem o ler. O que não é necessáriamente bom! Bem, amiga Anita, emprestas-mo?
ResponderEliminar:D
ResponderEliminarsó tu...
claro que empresto!