Gostei da forma desassombrada como Miguel Lobo Antunes (responsável pela programação da Culturgest) afirmou que “os criadores criam porque não conseguem viver sem isso e as pessoas assistem porque lhes faz bem participar no que os outros são capazes de fazer”*
Participar no acto criativo não só faz bem como dá um prazer muito especial que parece aumentar exponencialmente com o nível de cumplicidade que estabelecemos com esse mesmo acto.
Ler um livro, assistir a um filme, ver uma exposição é muito bom. Mas ver desenhar é ainda melhor do que ver o desenho feito, ouvir a música ao vivo é ainda mais saboroso que ouvi-la no CD e quando alguém nos conta uma história à medida que esta vai nascendo na sua cabeça ou partilha uma ideia recém-nascida, o prazer é transbordante e viciante. Deve ser também por isso que mesmo os coleccionadores que não se importam de pagar as comissões das galerias adoram visitar os ateliers dos artistas. Para participar um pouco mais.
A noite passada, por ocasião do lançamento da revista bypass tive a oportunidade de conhecer uma obra de uma generosidade prodigiosa: “Eurolines Catering or Homesick Cuisine", de Pavel Braila.
No vídeo projectado nas paredes da Appleton Square, assistimos a um telefonema do artista de origem Moldava para a mãe. Pavel pede ajuda para dar um jantar para 50 pessoas. “50 pessoas é muita gente, não é fácil...”, começa a mãe por dizer, mas logo se entusiasma com a proposta da ementa, composta por pratos tradicionalmente moldavos. O artista pede por fim que a mãe lhe faça chegar o banquete até Berlim (onde ele vive) por autocarro.
A segunda parte do filme documenta a alegre preparação do jantar na intimidade da cozinha rural da família de Pavel: a mãe colhendo as parras onde enrolará a carne e o arroz para o sarmale, o pai provando das pipas o vinho e brindando aos artistas de Berlim e de todo o mundo, a tia batendo o pé ao som da musica dos Balcãs enquanto estende a massa. Quando o petisco fica pronto seguimos o seu percurso de autocarro até Berlim, acondicionado nos sacos aos quadrados que nos habituámos a ver nas mãos dos emigrantes.
É então que Pavel entra na sala onde nos encontramos com esses mesmos sacos de onde tira o enorme tacho do sarmale, as panquecas e o vinho caseiro cujo aroma frutado das uvas morangueiras tivemos afinal oportunidade de conhecer, já que a partilha saiu do vídeo para prosseguir com novos sentidos entre todos os presentes.
Participar no acto criativo não só faz bem como dá um prazer muito especial que parece aumentar exponencialmente com o nível de cumplicidade que estabelecemos com esse mesmo acto.
Ler um livro, assistir a um filme, ver uma exposição é muito bom. Mas ver desenhar é ainda melhor do que ver o desenho feito, ouvir a música ao vivo é ainda mais saboroso que ouvi-la no CD e quando alguém nos conta uma história à medida que esta vai nascendo na sua cabeça ou partilha uma ideia recém-nascida, o prazer é transbordante e viciante. Deve ser também por isso que mesmo os coleccionadores que não se importam de pagar as comissões das galerias adoram visitar os ateliers dos artistas. Para participar um pouco mais.
A noite passada, por ocasião do lançamento da revista bypass tive a oportunidade de conhecer uma obra de uma generosidade prodigiosa: “Eurolines Catering or Homesick Cuisine", de Pavel Braila.
No vídeo projectado nas paredes da Appleton Square, assistimos a um telefonema do artista de origem Moldava para a mãe. Pavel pede ajuda para dar um jantar para 50 pessoas. “50 pessoas é muita gente, não é fácil...”, começa a mãe por dizer, mas logo se entusiasma com a proposta da ementa, composta por pratos tradicionalmente moldavos. O artista pede por fim que a mãe lhe faça chegar o banquete até Berlim (onde ele vive) por autocarro.
A segunda parte do filme documenta a alegre preparação do jantar na intimidade da cozinha rural da família de Pavel: a mãe colhendo as parras onde enrolará a carne e o arroz para o sarmale, o pai provando das pipas o vinho e brindando aos artistas de Berlim e de todo o mundo, a tia batendo o pé ao som da musica dos Balcãs enquanto estende a massa. Quando o petisco fica pronto seguimos o seu percurso de autocarro até Berlim, acondicionado nos sacos aos quadrados que nos habituámos a ver nas mãos dos emigrantes.
É então que Pavel entra na sala onde nos encontramos com esses mesmos sacos de onde tira o enorme tacho do sarmale, as panquecas e o vinho caseiro cujo aroma frutado das uvas morangueiras tivemos afinal oportunidade de conhecer, já que a partilha saiu do vídeo para prosseguir com novos sentidos entre todos os presentes.
Adorei! :)
*Lobo Antunes, M. (Novembro de 2008). entrevistado por Inês de Medeiros. Relance , pp. 44-55.
Só hoje, passado quase dois anos é que vi este post.
ResponderEliminarEscusado será dizer que me fez reviver o momento, em que se juntou um grupo de artistas e autores que nos são muito queridos. Costuma-se dizer que o primeiro amor é o mais forte... assim foi o primeiro número da BYPASS, os seus autores e a sua primeira exposição.
O Pavel é, como tu dizes, de uma generosidade imensa e um grande artista também.
Ler e ver aqui o registo dessa noite é comovente.
Obrigada Ana! Por tudo...!
Gaëlle, Álvaro
BYPASS