sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

desabafo

ontem limpei um armazém.
a luz era artificial e fria como a de um frigorífico, o chão de betão empoeirado obrigava-me a mudar a água do balde a cada metro quadrado, as janelas junto ao tecto fechavam mal e deixavam entrar  vento e noite, as pontas dos dedos estavam ásperas de pó, o nariz queixava-se e a roupa sentia-se suja e para se vingar arrefecia-me.
mas entre uma música e outra, o ipod lembrou-se de escolher uma mazurka capaz de dar um surpreendente sentido a tudo aquilo. houve sonho-súbito, pó-de-entrelinhas, pé-leve, felicidade-em-grão e a ocorrência de um pensamento estranhamente límpido:
na verdade ninguém conhece a aparência do paraíso

2 comentários:

  1. ...e como não sabemos qual a verdadeira aparencia do paraíso, quantas vezes estamos nele e achamos estar no inferno! o paraiso pode ter a aparencia exterior do frio, da sombra, do cinzento... desde que sintas paz! desde que haja marzuca! desde que...

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