quinta-feira, 8 de abril de 2010

Histórias de amor do caneco



A relação de Amedeo com Jeanne Hébuterne foi tumultuosa. O pintor era problemático e viciado em drogas. Os maus-tratos, abandonos e traições eram um sofrimento constante para Jeanne, que apesar de tudo não conseguia viver sem Modigliani. Quando soube da sua morte, a musa (também pintora) suicidou-se, atirando-se de uma janela de 5º andar. Estava grávida de nove meses. Por tudo isto foi-lhe negado o direito a um enterro cristão e os pais tiveram de a velar e sepultar às escondidas. Anos mais tarde o seu corpo foi transladado.

Hoje dorme junto de Amedeo e do filho que não chegou a nascer no cemitério de Père Lachaise, em Paris.



9 comentários:

  1. Arrepiante. E imponente daquele respeitinho que é admiração... :)))))))





    Jinhos.

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  2. Uma história incrivelmente chocante e triste. Quanto mais a aprofundamos, maior miséria descobrimos, como se não houvesse limites para a escuridão.
    E como uma nuvem a pairar sobre tudo isto, a injustiça de uma pintora talentosa como Jeanne ter ficado registada na história de arte como a modelo dos pescoços longos e olhos amendoados da pintura de Modigliani e como um apontamento trágico da sua biografia. A sua paixão e devoção serviram de alimento ao mito do pintor e contribuiram para eternizar o homem que a maltratou.

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  3. Anita, foi exactamente cinco minutos após eu ter visto este filme, que compus a melodia principal da minha música A Chuva. É impossível ficar-se indiferente a uma história destas.

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  4. Realmente a beleza da arte encontra-se nas histórias de vida mais horriveis e tristes, é muito comum saber-se de pintores, musicos, escritores e outros artistas que com histórias de vida tão tristes deixaram obras tão belas. Eu adoro Mondigliani e os seus retratos.

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  5. fernando, ainda não vi o filme... mas já ouvi a tua "a chuva" :)
    por acaso não está on-line, para eu poder deixar aqui um link?

    Mãe rã, a história da arte é realmente fértil em "histórias de amor do caneco"... mas algumas até têm finais muito felizes! (vou tentar também falar dessas de vez em quando...)

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  6. anita, várias músicas minhas aqui:
    http://www.myspace.com/fernandodinis

    Obrigado e um beijinho

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  7. Sandra R. (alentejo)14 de abril de 2010 às 14:40

    vi o filme ainda na companhia do D. no dia antes de ele deixar Braga e ir para Lisboa... a partir dai senti-o como o meu Modiglinani... e sobrevivi.

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  8. O Alexandre O'Neill apaixonou-se um dia pela francesa Nora Mitrani, ela parte para Paris e ele não suportando a distância decide partir para o lado de lá da ausência, mas é barrado no aeroporto, seu pai, muito influente no país pré-74 solicitou às altas instâncias que este não pudesse abandonar o país...e ele, destroçado escreveu este triste lancinante e belo "Adeus Português":

    Nos teus olhos altamente perigosos
    vigora ainda o mais rigoroso amor
    a luz dos ombros pura e a sombra
    duma angústia já purificada

    Não tu não podias ficar presa comigo
    à roda em que apodreço
    apodrecemos
    a esta pata ensanguentada que vacila
    quase medita
    e avança mugindo pelo túnel
    de uma velha dor

    Não podias ficar nesta cadeira
    onde passo o dia burocrático
    o dia-a-dia da miséria
    que sobe aos olhos vem às mãos
    aos sorrisos
    ao amor mal soletrado
    à estupidez ao desespero sem boca
    ao medo perfilado
    à alegria sonâmbula à vírgula maníaca
    do modo funcionário de viver

    Não podias ficar nesta casa comigo
    em trânsito mortal até ao dia sórdido
    canino
    policial
    até ao dia que não vem da promessa
    puríssima da madrugada
    mas da miséria de uma noite gerada
    por um dia igual

    Não podias ficar presa comigo
    à pequena dor que cada um de nós
    traz docemente pela mão
    a esta pequena dor à portuguesa
    tão mansa quase vegetal

    Mas tu não mereces esta cidade não mereces
    esta roda de náusea em que giramos
    até à idiotia
    esta pequena morte
    e o seu minucioso e porco ritual
    esta nossa razão absurda de ser

    Não tu és da cidade aventureira
    da cidade onde o amor encontra as suas ruas
    e o cemitério ardente
    da sua morte
    tu és da cidade onde vives por um fio
    de puro acaso
    onde morres ou vives não de asfixia
    mas às mãos de uma aventura de um comércio puro
    sem a moeda falsa do bem e do mal

    Nesta curva tão terna e lancinante
    que vai ser que já é o teu desaparecimento
    digo-te adeus
    e como um adolescente
    tropeço de ternura
    por ti

    Alexandre O'Neill

    PS - desculpa ser tão longo, a culpa é do O'neill que não sabe escrever menos...

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  9. Sandra, claro que sobreviveste, és uma menina apaixonada mas muy forte :)

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